Rodrigo Pinheiro
Língua Brasileira de Sinais, conhecendo a história da LIBRAS
Atualizado: 13 de set. de 2022

Antes de começar nossa jornada pela história, é importante frisar que a LIBRAS que estamos falando não é um signo do zodíaco, ou a moeda do Reino Unido, muito menos uma unidade de peso. LIBRAS é a sigla da Língua Brasileira de Sinais
A língua começou a ser implementada no Brasil ainda no século XIX, remetendo a época do Segundo Império. A história da LIBRAS começa com o convite do imperador Dom Pedro II ao estudioso francês Ernest Huet para vir até o Brasil.
Mas por que o imperador convidaria um educador formado pelo Instituto Nacional de Surdos de Paris para cruzar o atlântico e vir até o Brasil?
Não se sabe exatamente quem era o parente próximo do imperador que era surdo, mas não é descartada a possibilidade de que seria um de seus netos. O fato é que o imperador queria que o francês desenvolvesse uma metodologia para que o jovem membro da família real pudesse estudar e se comunicar com os familiares.
A decisão foi importantíssima, um grande acerto de Dom Pedro II. O estudioso francês, que também era chamado de Eduard Huet, tinha um projeto que iria muito além da solução para a deficiência do neto (ou parente) de Dom Pedro. O que Huet propôs em 1855, foi a criação da primeira escola para surdos do Brasil.
Em seus estudos, o Ernest identificou que a quantidade de surdos no país era muito maior do que todos tinham conhecimento. A informação somada a convicção do imperador em ajudar o jovem familiar, fez com que Dom Pedro II decidisse arcar com todos os custos da vinda de Huet para o Brasil.
Fundação do IISM – Imperial Instituto dos Surdos-Mudos
Dois anos depois, em 1857, estava sendo fundado no Rio de Janeiro o IISM – Imperial Instituto dos Surdos-Mudos. No início a instituição ajudava apenas crianças surdas do sexo masculino. A sua nomenclatura também mudou várias vezes durante sua existência. A grande surpresa é que o IISM vem se mantendo firme durante esses quase dois séculos e se transformou no INES (Instituto Nacional de Educação de Surdos).
A palavra "mudos" não faz mais parte da nomenclatura do INES devido a atualização de políticas, conceito e nomenclaturas. O fato é que a compreensão se adequa a realidade de tempo em tempo. Sabemos hoje que a maioria das pessoas surdas não falam, porque não aprenderam a falar.
Ernest Huet lecionou e ocupou a direção do Instituto ate 1861, ano que que se mudou para o México. Seu método era baseado na "Comunicação Total", tendo como principal finalidade, aumentar as possibilidades de comunicação dos surdos no meio familiar e escolar.
Origem da língua de sinais
Na Era Pré-Histórica, há cerca de 60 mil anos, a comunicação entre os humanos era feita através dos movimentos das mãos e os braços. A necessidade de falar surgiu devido a utilização das mãos para o manuseio de artefatos e ferramentas que o homem foi desenvolvendo através do tempo. Aos poucos, os sons vocais foram substituindo os gestos, até se transformarem na linguagem falada.
Com o surgimento da sociedade e o crescimento das civilizações, os que nasciam surdos eram
submetidos ao isolamento e a marginalização. Em algumas civilizações modelos como a Grécia e a Roma Antiga, surdos não eram considerados seres humanos competentes e eram privados de seus direitos, inclusive de heranças.
Desde a Idade Média, até o século XII, acreditava-se que a alma dos surdos não era imortal, devido a impossibilidade de pronunciar sacramentos. Até que na Idade Moderna, o monge beneditino, Pedro Ponce de León abraça a missão de se tornar o primeiro professor de surdos da humanidade.

O monge espanhol garantiu o direito de herança aos seus alunos surdos, através do ensino. Desta forma, os surdos mostraram que eram capazes de aprender com o professor Pedro os ensinando a falar, ler e escrever. O monge beneditino também desenvolveu o primeiro manual de ensinamentos de escrita e técnicas de oralização. Surpreendentemente, conseguiu ensinar aos surdos, o aprendizado da fala de diferentes idiomas.
Mas foi no século XVIII que surgiu o grande nome da língua de surdos, professor francês Charles-Michel de l'Épée. Michel foi um abade e se dedicou à educar os surdos de acordo com os princípios do cristianismo. Ganhou o título de “pai dos surdos” dos maiores especialistas do assunto no mundo. Charles criou um alfabeto de sinais para alfabetizar surdos ainda no século XVIII . O alfabeto foi utilizado para ensinar seus alunos surdos em 1755.
Outros nomes importantes foram Juan Pablo Bonet e por John Bulwer. Bulwer por exemplo é foi um dos primeiros a defender o uso de sinais gestuais para a criação de uma língua para surdos.
A LIBRAS
A LIBRAS que no início era chamada de "Língua Nacional de Sinais", foi inspirada na "Língua de Sinais Francesa". Possui sua própria estrutura gramatical, contemplando todos os requisitos para a sua oficialização como língua. Neste caso, baseada no português.
Com as línguas de sinais é possível se comunicar através de gestos, expressões faciais e corporais. Apesar de pertencerem a modalidade visual-gestual, elas não são universais.
Cada país possui sua própria língua de sinais
Da mesma forma que no Brasil falamos o português e na França, o francês. Cada língua de sinal foi criada para o seu próprio idioma. Isso sem contar que essas línguas ainda sofrem pequenas variações conforme cada região de seus respectivos países.
Libras: língua ou linguagem?
"A linguagem é o mecanismo que utilizamos para transmitir nossos conceitos, ideias e sentimentos. Trata-se de um processo de interação. Qualquer conjunto de signos ou sinais é considerado uma forma de linguagem. Já a língua é um código verbal característico, ou seja, um conjunto de palavras e combinações específicas compartilhado por um determinado grupo", OLIVEIRA, Katyucha de. "Diferença entre língua e linguagem"; Brasil Escola.
No dia 24 de abril de 2002, foi sancionada a Lei nº 10.436 e regulamentada pelo Decreto nº 5.626/2005, reconhecendo a LIBRAS como meio legal de comunicação e expressão no país. Resultado da intensa mobilização da comunidade surda em ampliar seus direitos.
A Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS), é falada por milhões de pessoas no país, sendo a segunda língua oficial do Brasil. Através da LIBRAS é garantida a preservação da identidade das pessoas e comunidades surdas. A Língua também contribuindo para a valorização e o reconhecimento da cultura surda brasileira.